segunda-feira, 7 de julho de 2014

A7V e o diorama da primeira batalha entre tanques (paerte 1)


Tanque em fase inicial de pintura
Montar kit referentes a primeira guerra é sempre um grande desafio, não pelo tema em si, mas pela a qualidade dos modelos. A primeira guerra mundial foi o evento mais horrível e estressante da humanidade. Seus números absolutos podem não ser os maiores, mas ao se estudar as minucias desse conflito, fica evidente o grau de devastação que essa guerra causou. Esse ano completa-se um século do incio deste conflito, do qual tive antepassados que participaram e ainda possuo algumas medalhas da época, resolvi prestar uma pequena homenagem aos bravos que lutaram nessa surreal ocasião. A grande guerra é um conflito completo, muito bem registrado, em fotos e filmes, mas infelizmente é delegado a segundo plano pelos fabricantes e modelistas. Optar por esse tema é quase sempre navegar em águas duvidosas, ou melhor, kits duvidosos. Existem poucos kits, a maioria em escalas menores como a 1/72, e geralmente são kit ruins. É logico que alguém vai ler isso aqui e lembrar dos novíssimos kits de aviões da Wingnuts, esses que são verdadeiras joias modernas do plastimodelismo, mas quem conhece a causa sabe que eles são a extrema exceção quando se trata de Primeira Guerra Mundial.
inicio da camuflagem 
Minha ideia era representar a primeira batalha de tanques que ocorreu na história, entre um A7V alemão e dois tanques Mark IV ingleses, ocorrido durante a segunda batalha de Villers-Bretonneux
. Mas ao invés de criar um diorama contendo tudo, irei criar tres pequenas vinhetas que se completam no final.
Pintura finalizada
Projetando a base
Ao começar pelo A7V alemão. O kit escolhido foi um antigo kit da Emhar. Para quem não conhece, essa pequena marca inglesa produz kits de veículos raros, como os tanques e veículos da primeira guerra. O kit e extremamente simples, e mesmo assim é bastante ruim. Cheio de problemas de encaixe, falhas nas juntas, peças mau projetadas e etc. Uma ruindade concentrada, assim como foi a primeira guerra.
Base feita com isopor e pasta para modelagem
Algo muito difícil nesses casos é achar boas referencias de cores. Em toda minha pesquisa, a fonte que acabou me passando mais informações foi o bom e velho Panzer Collors, da editora Squadron, mesmo sendo um livro sobre pinturas dos tanques da segunda guerra, ele foi o que me tirou todas as dúvidas sobre pinturas da primeira guerra. As cores já possuíam as padronizações que conhecemos na segunda guerra, como o dark yellow, panzer grey, dark green e tudo mais. O cinza (a cor ecolhida) era largamente utilizada em veículos e uniformes alemães devido ao fato da cor se “sujar” mais no ambiente. A poeira se agarra as superfícies tornando o tanque naturalmente da cor de seu ambiente. Essa técnica permanece em vigor até os anos quarenta, e o verde escuro escolhido pelos americanos nas guerras é pelo mesmo motivo. O marrom da pintura ajudava o tanque a se misturar ao enorme mar de lama que foi a primeira guerra mundial. Mas dos 20 A7V construídos durante a primeira guerra mundial, não houve dois com a mesma pintura. Houve aqueles que sairam todo dark yellow, outros sairam cinza com manchas verdes, houve aquele todo verde e o todo marrom, padrões variados de pintura, zebrado, tigrado, ameba, mancha e por ai vai...
Paredes da trincheira feitas em madeira. 
As figuras são do set da Airfix. Não há nada que eu recomende nessas figuras além do fato de elas serem as únicas disponíveis no mercado. Mas são péssimas. Se você conhece uma palavra que seja mais forte do que “péssima”, fique a vontade para usar... as figuras não tem expressão, as rebarbas ficam em pontos importantes das figuras, como o meio do rosto, o plástico usado é de péssima qualidade, e a posição de algumas figuras é ridícula. Foi da tentativa que arrumas uma dessas figuras, um soldado aparentemente ferido ou morto, mas com a “perninha” dobrada, que nasceu a imagem do homem terrivelmente mutilado na base. Não sou adepto dessas escolhas de gosto duvidoso, mas a figura em si já é de gosto duvidoso, até que não foi um final tão ruim para tal figura. Para representar a lama sem fim no diorama, foi utilizado uma mistura de pasta de modelar e terra, extremamente peneirada para adequar a escala. A trincheira foi construída rusticamente com pequenos pedacinhos de madeira, palitinhos de sorvetes cortados, depois escurecidos com tinta óleo de diversa cores. Estou com bastante trabalho pela frente, mas em breve eu consigo finalizar esse projeto com os tanques ingleses.

Sobre o A7V

projeto finalizado
Figuras da Airfix, de péssima qualidade
Os primeiros tanques as desfilar pela primeira guerra foi os ingleses. A ideia inicial era a criação de um carro blindado para uso geral no front, que andasse em terrenos ruins, aguentasse fogo de armas leves e algumas artilharias, e que conseguisse atravessar as trincheiras. O resultado foi o Mark I, o classico tanque inglês, pesado, extremamente lento, montado sobre esteiras, assim como alguns tratores da época, para uma maior distribuição de peso para não atolar na terrível lama da primeira guerra. Inicialmente o Mark I carregava soldados, suplementos, água e munição para as trincheiras. Mas logo a ideia de armá-lo com metralhadoras, e depois com canhões, veio para ficar.
A guerra é cruel...

Werner
Franz
e Klaus

Apoio a tropas foi o principal uso do A7V

Os alemães se depararam com essas maquinas em meados de 1916, e notaram que além de uma relativa eficiência em em romper as linhas de defesa, tais tanques causavam um temor psicológico nos soldados que era tremendo, maior do que o estrago que de fato tais veículos causavam.
No mesmo ano de 1916 o engenheiro do exercito Joseph Vollmer começou a projetar a versão alemã do carro blindado. O veículo acabo fincado pronto apenas em 1918, com um layout bem diferente do inglês, mas ainda sim, eficiente tanto quanto.
O veículo tinha 7 metros de comprimento por 3 de largura, aproximadamente, e 3 metros de altura. Pesava 33 toneladas, e sua blindagem era de 33mm na frente e 15mm nas laterais, algo bastante impressionante a época, invulnerável para as armas contemporâneas. Era empurrado por dois motores Mercedes de 200hp, e sua velocidade máxima em condições ideais era de 15km/h, mas a velocidade normal de operação era entre 2 a 5 km/h. Possuía um moderno canhão de 57mm na parte frontal, mais 6 metralhadoras espalhadas pelas laterais e traseira. 20 unidades foram fabricadas, mas apenas 10 foram usadas como carro de combate, as outras 10 unidades serviram como cozinha móvel, tanque de água, transporte de carga e de feridos.
A primeira batalha entre tanques da história ocorreu em 1918 durante a segunda batalha de Villers-Bretonneux. A batalha em si foi muito dura, mas o encontro entre tanque foi meramente simbólico. Ao suportar uma trincheira, um A7V avistou dois tanques ingleses Mark IV, um macho e outro fêmea (eles ganharam esse nome porque um mesmo Mark IV podia receber como armamento dois canhões e três metralhadoras, os machos, ou 5 metralhadoras nos fêmeas, e eles quase sempre operavam em dupla, ou casal se preferir). O A7V e o Mark IV macho trocaram tiros por uns 15 minutos, mas pouco se acertou, e os tiros que acertavam não tinham força suficiente para danificar o adversário seriamente. Eles acabaram recuando para polpar munição. É, nada empolgante para um momento histórico tão critico...
De fato, não há registro de A7V abatidos. Ao termino da guerra, eles foram entregues aos aliados para uso e estudos, os franceses acabaram enviando os A7V para lutarem na guerra Russo Polonesa de 1920, mas não tiveram uma participação representativa. Nesta época, maquinas mais modernas, leves e rápidas estavam aparecendo, e o A7V se tornou obsoleto muito rapidamente. Eles acabaram sendo desmontados para reciclagem dos metais. Apenas uma unidade dos 20 originais foi preservada, se encontra em um museu na austrália. Exitem algumas replicas dele circulando por ai, em museus e encontros de blindados pelo mundo.
O A7V foi importante pra sua época, e ajudou a mostrar a nova face da guerra. A primeira guerra foi concebida para ser uma guerra clássica, medieval, mas o que os generais da época não perceberam de inicio, é que as grandes revoluções da ciência do inicio do século 20 estariam lutando junto aos soldados. A grande guerra é considerada a primeira guerra moderna, que salvando as proporções, foi travada da forma como se travou as guerras dos últimos 100 anos. Pela primeira vez a guerra teve mobilidade motorizada, batalhas travadas em dois níveis ao mesmo tempo pelo menos (terra e ar), pela primeira vez a guerra teve comunicação eletrônica quase instantânea, e pela primeira vez se experimentou o uso de blindados no apoio das tropas, tudo de forma rudimentar, claro. Falar em mobilidade na guerra, em batalhas que soldados ficavam meses enterrados na mesma trincheira, e comparando com a mobilidade moderna dos tanques, carros e helicópteros, e praticamente impossível, mas ao comparar com as guerras que vieram antes, verás que a primeira guerra é muito mais moderna do que ela aparenta inicialmente. E voltando ao assunto dos blindados, esse veículos rudimentares criados não surtiram um efeito contundente ao resultado final da guerra, mas os estudiosos militares da época, com destaque aos estudiosos alemães, perceberam o potencial desta maquina de guerra. Assim como os aviões, os blindados foram profundamente estudados e aprimorados no período entre guerras, e quando a segunda guerra foi deflagrada, não só as armas estavam evoluídas, mas como o treinamento e as táticas que envolviam os blindados estavam fundamentadas. Ao invadir a polônia, o primeiro evento oficial da segunda guerra, o alemães já sabiam usar seus blindados como ninguém, com técnicas e táticas que vigoram até hoje, e todas as nações que não apostaram nessa nova arma, como o caso da própria Polônia, se viu em uma posição muito ruim quando fileiras de tanques atravessavam suas linhas de defesas e o cercavam em questão de horas. Hoje não há nação militarizada que dispense o uso dos blindados, a importância deles num campo de batalha parece aumentar ano após ano, mas num teatro moderno de guerra, o que se percebe é que a pior destruição causada por tanques ainda é a psicológica, a visão de um blindado inimigo se aproximando é algo indescritível, e é uma sensação que está prestes a completar um século de vida.     
"Atirar para todos os lados" era uma característica do A7V

a lama era a realidade da Grande Guerra