sexta-feira, 18 de março de 2011

Reportagem Que saiu na Hobby News!

Pra quem não viu, segue o texto e as fotos publicadas na Hobby News deste mês!

"" Remontando o passado. Restauração de um Harbor Tug Revell.



É interessante como o hobby entra na vida das pessoas e como tais miniaturas mexem conosco de forma diferente.
A algum tempo veio me procurar uma pessoa que possuía um modelo que precisava ser restaurado. Tratava-se de um harbor tug da revell, na escala de 1/108, bem judiado, montado na década de setenta e que havia sofrido com o tempo e principalmente com as empregadas domesticas. O modelo preservava um certo charme escondido atrás de crostas de poeira e pintura descascada.
Alguém pode pensar que por se tratar de um kit em que a revell continua injetando seria mais fácil e até mesmo mais barato adquirir um kit novo e montar igual ao que foi montado lá traz. Mas não é bem assim. Quem tem guardado suas coisas de infância sebe que não é o bem material que importa, e sim a lembrança que aquilo tudo traz. Aquele barquinho empoeirado havia sido feito pelo pai para dar de presente ao filho, que guardou aquilo por anos e após o falecimento de seu pai, tinha naquele barco uma doce lembrança da infância. O barco significava muito mais pelas recordações do que ter um barco montado decorando a sala.
É por isso que cada parte e cada detalhe do barco deveria ser preservado e restaurado, e não substituído por um modelo perfeito digno de medalha em convenção.
Não foi uma tarefa das mais fáceis. Alem de uma pintura nova, havia marcas de cola a serem tiradas, massa de calefação (o putty da época) a ser removida, peças a serem repostas, alem de uma reforma na parte elétrica (sim, o modelo possui um pequeno motor).
Começando a restauração fazendo um catálogo fotográfico completo do modelo para servir de referencia para montagem e pintura. Depois, um desmonte completo de todas as peças e retirada da tinta. Existe algumas técnicas para remoção de tinta circulando por ai, e confesso que achei algumas até interessante, mas achei todas abrasivas e agressivas demais. Com medo de afetar o plástico antigo do barco, retirei a tinta na forma antiga, lixando.
Também foi tirado todo o resto de cola que ainda restara e toda a massa de calefação, que continuava pegajosa e grudenta depois de tantos anos. Na parte elétrica, o motor foi revisado mas continuava bom depois de anos. As solda foram todas refeitas e os antigos contatos de cobre das pilhas foi substituído por uma moderna caixa de pilhas, menor e mais segura.
Uma mudança no modelo que tomei a liberdade de fazer foi no deck. Transformei a peça lisa em um belo assoalho de madeira utilizando “scriber” e texturizando com uma lixa grossa depois. Outra liberdade que tive foi em usar plástico transparente e envidraçar todas as escotilhas e vigias. Ainda refiz algumas escadas que haviam se perdido com o tempo e pinei todas as pequenas peças no barco para que elas agüentem melhor os próximos quarenta anos que estão por vir.
A pintura que chegou até mim era com poucas cores e algumas omissões as cores originais dos barcos de verdade, algo comum principalmente se tratando da época em que foi montado e para a finalidade que foi montado. Algumas áreas percebia-se que não havia tinta, era apenas a cor do plástico. Mas neste quesito não tive duvida. Não mudarias as cores daquele barco mesmo sabendo que ele estava pintado com cores aleatórias. Como peça de recordação, o barco precisava preservar as cores que possuía. Quem conhece essas coisas vai perceber que a pintura esta errada para esse barco, mas vamos passar por cima disso. As tintas usadas foram quase todas automotivas, com exceção do vermelho, que fiz questão de usar vermelho brilhante da Tamiya com retardador para dar um efeito mais brilhante. O envelhecimento foi feito a pedido do cliente, mas não quis exagerar muito. Fiz um pouco de desbotamento, algumas marcas de ferrugem, washed, alguns descascados e por ai vai, o básico em pequenas doses apenas para dar a impressão de uso.
Clear nas luminárias, estais esticados com sprue e cordas feitas com linhas de costura, e hora e batizar o barco. Após consulta, o nome foi escolhido. Homenagem ao modelista dono da obra original, o rebocador S. C. Garcia estava batizado.
Mas confesso, depois de dose anos de modelismo, três profissionalmente, essa foi a encomenda em que me senti mais satisfeito em ter feito. Não pelo trabalho final, que ficou bom e agradou o cliente, que é ótimo, mas pelo peso que este trabalho teve e que conseguir corresponder a altura. Não se tratava apenas de mais um kit. Estava mexendo com a memória de alguém, um peso e medida da qual não tinha me deparado nessa minha curta profissão. Pensei que seria mais uma bucha, mais um abacaxi pra descascar, mas se tornou um trabalho agradável, que fluiu bem e me trousse bastante satisfação. Mais um desafio encarado, mais um desafio cumprido. Pronto pra próxima. Dúvidas e sugestões, entrem no blog www.blogdochiquito.blogspot.com e até a próxima.  ""